PERITÔNIO
ENTENDA O QUE É PERITÔNIO E CAVIDADE PERITONEAL
O peritônio é uma membrana vital que reveste a cavidade abdominal e os órgãos abdominais. Ele desempenha um papel fundamental na proteção, suporte e funcionamento adequado dos órgãos abdominais. Embora seja um termo que possa parecer complexo para quem não possui conhecimentos médicos, entender o que é o peritônio é importante para ter uma compreensão básica sobre a carcinomatose peritoneal e seu tratamento.
O peritônio é formado por duas camadas: uma reveste os órgãos (peritônio visceral) e a outra reveste a parede abdominal na sua face interna (peritônio parietal). Entre as duas camadas existe um espaço virtual chamado de cavidade peritoneal. Este espaço é considerado virtual uma vez que é preenchido por uma pequena quantidade de líquido peritoneal que permite o deslizamento das vísceras, diminuindo o atrito entre elas. Portanto, não existe um espaço propriamente dito, pois as vísceras e estruturas estão em contato umas com as outra. A cavidade pode ser tornar real sob certas circunstâncias, como entrada de ar (pneumoperitônio) ou líquidos (ascite, sangue, derrames de bile, conteúdo gástrico ou intestinal, etc) ou introdução artificial de ar (laparoscopia) ou líquido para fins de diagnóstico ou tratamento. Também a abertura cirúrgica ou traumática do peritônio, após secção dos planos da parede abdominal, ao permitir a entrada de ar, transforma a cavidade peritoneal de virtual em real.
PERITÔNIO PARIETAL
PERITÔNIO VISCERAL
Desenho esquemático com o peritônio representado pela linha branca e o espaço peritoneal entre elas.
Desenho esquemático com o peritônio representado em verde
O peritônio é um verdadeiro órgão, com funções e patologias próprias. Das suas características funcionais, as principais são:
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produção do líquido peritoneal que lubrifica e permite o deslizamento das alças intestinais e demais vísceras, e ainda reduz o atrito entre os órgãos, permitindo que eles se movam suavemente uns contra os outros durante os movimentos do corpo.
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uma das funções principais do peritônio é a de fornecer uma barreira protetora contra infecções e lesões. Ele ajuda a prevenir a propagação de infecções e inflamações na cavidade abdominal, isolando os órgãos e impedindo a disseminação de bactérias e outros agentes nocivos. A ação de células de defesa existentes no líquido peritoneal aumenta a capacidade de confinar uma infecção.
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o acúmulo de gordura, em especial no omento maior, que atua como reserva nutricional.
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outro aspecto importante do peritônio é o seu papel na absorção e transporte de substâncias no corpo. Ele possui uma rede de vasos linfáticos e pequenos vasos sanguíneos que ajudam na absorção de nutrientes e na remoção de resíduos metabólicos dos órgãos abdominais. Esses vasos também ajudam no transporte de substâncias essenciais para o funcionamento adequado dos órgãos, como hormônios e enzimas.
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a absorção e a eliminação de substâncias entre a cavidade peritoneal e a circulação pode ser explorada nos processos terapêuticos (diálise peritoneal, administração de medicamentos). Esta mesma propriedade explica a absorção de toxinas bacterianas nos casos de infecções graves que afetem o peritônio.
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o peritônio é muito sensível, provocando dores intensas quando traumatizado, descolado ou fortemente distendido. O peritônio parietal é inervado por nervos das paredes responsáveis pela sensação de dor. Os estímulos dolorosos do peritônio parietal podem ser relacionados diretamente com a região estimulada ou podem ser referidos, como, por exemplo, a estimulação dolorosa da parte central do peritônio diafragmático que é referida no ombro. Isso funciona como um mecanismo de alerta e defesa para probelmas que podem estar ocorrendo dentro do abdome. O peritônio visceral não apresenta inervação para a dor, mas sensações de distensão ou tração podem ser sentidos difusamente.
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Além disso, o peritônio também desempenha um papel crucial na cicatrização de feridas e na resposta do sistema imunológico. Quando ocorre uma lesão na cavidade abdominal, o peritônio é capaz de se regenerar e formar uma barreira de proteção ao redor da área afetada. Ele também é responsável por liberar substâncias que desencadeiam uma resposta inflamatória e imunológica, ajudando a combater infecções e acelerar o processo de cicatrização.
Desenho esquemático com o peritônio pélvico parietal e visceral representado em verde
Em decorrência da disposição das vísceras abdominais, bem como de seu desenvolvimento do embrião no útero, o peritônio apresenta algumas formações próprias:
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os mesos que são reflexões do peritônio parietal posterior, constituídos por duas lâminas, que relacionam a parede abdominal com sua respectiva víscera, fixando-a e ao mesmo tempo dando-lhe mobilidade. O espaço entre as duas lâminas do meso é preenchido por tecido pelo qual passam vasos, sanguíneos, nervos e vasos linfáticos e seus linfonodos em direção a víscera. Os mesos existentes são o mesentério, para o intestino grosso, o mesocolon para o intestino grosso e o mesorreto para o reto.
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os ligamentos que são reflexões peritoniais de dupla lâmina que vão do peritônio parietal a uma víscera ou entre uma víscera e outra.
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os omentos são reflexões peritoniais largas, amplas, que se dispõe entre duas vísceras. Os omentos existentes são o omento menor entre o fígado e o estômago e o duodeno, e o omento maior que vai do estômago ao intestino grosso (cólon transverso) e deste se dispõe como um “avental”, anteriormente às alças intestinais.
As vísceras abdominais são classificadas conforme sua relação ao peritônio em peritonizadas, extraperitoneais e intraperitoneais. As peritonizadas são aquelas quase totalmente envolvidas por peritônio visceral, ficando sem este revestimento somente numa estreita faixa que corresponde a região onde o meso ou ligamento se delamina 9divide em dois) para revestir a víscera, tornando-se peritônio visceral.
As extraperitoneais são aquelas situadas externamente ao peritônio parietal, o qual pode revestir uma ou mais faces da víscera, mas sem envolvê-la quase completamente (neste caso ela seria peritonizada). Como a maior parte dos órgãos extraperitoneais situa-se posteriormente ao peritônio parietal posterior é comum chamá-los de retroperitoniais.
ÓRGÃO PERITONIAL (PERITONIZADO)
ÓRGÃO EXTRA-PERITONIAL (PARCIALMENTE PERITONIZADO)
Os compartimentos e sulcos da cavidade peritoneal determinam como e onde materiais (líquido peritoneal, sangue, pus, etc) contidos na cavidade peritoneal devem se acumular ou deslocar. Os acúmulos ocorrem nos pontos de maior declive, que são o recesso entre o fígado e o rim direito (hépato-renal), em ambos os sexos e em decúbito dorsal e a escavação entre o reto e a bexiga (retovesical) no sexo masculino e a escavação entre o reto e o útero (reto-uterina) no sexo feminino. Também as curvaturas da coluna vertebral contribuem na determinação destes pontos de acúmulo, criando vertentes naturais para o escoamento. Os sulcos paracólicos e a divisão esquerda do andar inframesocólico drenam para a pelve.
O entendimento desses sulcos e recessos é de grande importância para o entendimento da disseminação peritoneal das neoplasias. Uma vez que nesses locais ocorre uma maior concentração de líquidos com células neoplásicas, há uma maior incidência de adesão das células ao peritônio local e consequentemente, formação de implantes peritoneais.
LÍQUIDO ASCÍTICO
Desenho esquemático simulando o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal (líquido ascítico - em azul), entre o peritônio parietal e o visceral
Em resumo, o peritônio desempenha um papel vital na proteção e suporte dos órgãos abdominais. Ele fornece uma barreira protetora, ajuda na absorção de nutrientes, transporta substâncias importantes, participa da cicatrização de feridas e desempenha um papel na resposta imunológica. Entender a importância do peritônio ajuda a compreender melhor o funcionamento do corpo humano e a compreender os mecanismos de desenvolvimento e tratamento das neoplasias peritôniais.
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